Festas Tradicionais – Bumba Meu Boi

Bumba meu boi, Boi bumbá, Boi de mamão, Boi pintadinho, Boi calemba, estas são algumas, entre tantas outras denominações que constituem o folclore do boi, celebração ocorrida pelo país durante os festejos juninos. A diversidade das denominações expressa os regionalismos e sua riqueza cultural.
O Bumba Meu Boi é conhecido como uma dança, que chega ao Brasil e é adaptada pelas culturas africanas e indígenas. Trata-se de um ato, da representação de uma fábula, cujo personagem-chave, o boi, atua como artefato mítico e elemento cênico central para o desenrolar da trama.
Entre as origens, as influências ibéricas dão conta de uma tradição, que associa os festejos do boi às festas do solstício de verão da Roma Antiga e às colheitas realizadas entre os dias 24 e 25 de junho do calendário romano. Tempos depois, o calendário cristão destinaria as celebrações à São João Batista, protetor do boi.
Durante a escravidão no Brasil, a ocorrência dos folguedos cumpria importante papel nas sociabilidades dos tempos coloniais. O bumba meu boi e a sua representação mobilizavam as camadas populares, que faziam da dança um passatempo lúdico, os ajudando a suportar as agruras e afastar o banzo causado pela sua condição servil.
Muitos são os relatos que apresentam as passagens das primeiras festas no Brasil. Mas, o mais conhecido, data da dominação holandesa em Pernambuco no século XVII. Apelidado “Boi voador”, o episódio remontaria um folguedo ocorrido no Recife antigo.
Também muitas são as versões sobre a lenda do boi. A mais conhecida narra a história de pai Francisco, que, a pedido de mãe Catirina grávida, rouba o boi da fazenda do mestre, para atender a amada, que ansiava comer língua de boi. O plano é descoberto pelo mestre, que condena pai Francisco, salvo com a ajuda de um índio curandeiro, que ressuscita o boi para o alívio de todos.
O mito do boi, a morte e sua ressureição revelam as mandigas, as habilidades e as estratégias praticadas pelos subordinados a fim de assegurar a sua sobrevivência. O envolvimento de personagens negros (pai Francisco e mãe Catirina), branco (mestre, ou amo do boi) e indígena (curandeiro), são, em contrapartida, mobilizados de forma a construir uma fábula forjada, característica da pretensa ideia de unidade cultural da nação.
No Maranhão, o bumba meu boi representa a identidade cultural da região. Em 2011 recebeu do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) o título de Patrimônio Cultural do Brasil, e em 2019 conquistou o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO. O folclore do boi está presente em todo estado. São mais de 250 grupos que organizam manifestações dedicadas ao culto do boi.
No norte do país, a famosa disputa de bois bumbás entre Garantidos e Caprichoso, ocorrida em Parintins desde 1965, ganha cada vez mais ares profissionais. Ali se desenvolve um verdadeiro polo cultural e turístico e uma indústria, que vai desde a confecção de indumentárias e instrumentos musicais à produção e comercialização de material audiovisual, engajando a comunidade o ano inteiro.
Da década de 1990 em diante, cresce a participação de mulheres no desempenho de inúmeras funções. Não apenas na confecção de adereços e figurinos, mas também na participação das danças e toadas, tocando instrumentos até então destinados apenas a homens.
Para além da pirotecnia envolvida, o bumba meu boi e suas derivações segue como um conjunto de atividades significativas no cotidiano das comunidades locais, que assim como o carnaval, estruturam e organizam a vida.
O rito do boi bumbá sintetiza sentimentos caros a essas comunidades, que, a cada ano, renovam nos festejos do boi a certeza do valor de brincar.