Marco Ricca e Thaila Ayala encaram o abismo em ‘Lamento’

“Se você olhar longamente para um abismo, o abismo também olha para dentro de você”. O trecho, um dos populares da filosfia nietzschiana, também pode ser aplicado a espiral de ruínas que Lamento, filme de estreia Diego Lopes e Claudio Bitencourt, leva para as telas. Estrelado por Marco Ricca e Thaila Ayala, o longa chegou aos cinemas brasileiros na quinta-feira, 26, após uma bem sucedida recepção em festivais no exterior incluindo a disputa na categoria de Melhor Filme Estrangeiro do Festival de Burbank (EUA).
Na história, Marco Ricca interpreta Elder, homem de meia-idade que vive em meio a diferentes falências: a falência emocional de um casamento em frangalhos, a ruína de um negócio que vai de mal a pior e o desejo obsessessivo em fitar o abismo, até que ambos se tornem um só.
Elder herdou um hotel de Luxo: o Hotel Orleans, assim como o nome da dinastia de origem da família real brasileira (Orléans e Bragança) que sucumbiu ao tempo, às pressões da especulação imobiliária e a total inércia do herdeiro. Endividado e sem perceber o que está à sua frente, como as linhas miúdas de uma proposta comercial que compra o hotel, mas lhe tira a casa e qualquer possibilidade de segurança financeira, Elder parece perseguir a ruína.
“Ele está em um momento delicado da vida, com vários problemas financeiros e emocionais e ele tenta enfrentá-los, dentro das impossibilidades que ele tem como ser humano, meio frágil, meio falho. Você assiste à trajetória desse personagem indo por um movimento totalmente vertiginoso em relação à vida dele. Você nunca tem muita certeza de se o que ele está vivendo é real ou está num mundo próprio dele”, explica Ricca que entrega uma atuação brilhante ao longo de 1h45 minutos.
Com a chegada de uma nova hóspede, Letícia interpretada por Thaila Ayala, o tom do filme muda. Elder fica obcecado e embarca em uma espiral de excessos e descuídos. Lamento provoca uma experiência cinematográfica mais visceral, onde o público mergulha no abismo junto a Elder, em uma narrativa onde devaneio e realidade estão entrelaçadas. Essa escolha narrativa pode incomodar alguns espectadores, mais acosumados a estruturas lineares, mas ela funciona na trama.