Camarão, peixe frito, charque e farinha d’água: está aí uma combinação de “toppings” que você nunca imaginaria pedir em um quiosque de açaí. Mas é exatamente o tipo de refeição que transformou o açaí em um dos alimentos mais importantes da região Norte do Brasil.
O açaí “raiz” não tem nada a ver com os copões cheios de banana, granola e leite ninho que você toma aos finais de semana, e muito menos com a onda saudável, fitness e natureba abraçada hoje. Historicamente, o açaí representa subsistência.
O açaí com farinha de mandioca é o arroz e feijão do Norte. Juntos, esses dois alimentos fornecem a base de nutrientes necessários para aguentar o dia: carboidratos, proteínas, gorduras e vitaminas.
Uma típica cuia de açaí com farinha passa facilmente das 500 calorias – um quarto do que um ser humano médio precisa comer todos os dias para se manter de pé. Para você, bicho moderno que faz compras no supermercado e vive de dieta, não parece o melhor dos mundos, certo? Quando, porém, comida é algo difícil de obter… uma árvore de açaí é como uma mina de ouro. Com pouquíssimo esforço, você tem acesso a uma fonte de energia constante e extremamente versátil.
Era assim para os índios caçadores-coletores há mil anos. E segue assim hoje – principalmente para quem tem pouco dinheiro. 60% das famílias que recebem até um salário mínimo no Pará consomem açaí todos os dias. Batido ou amassado no pilão até formar uma pasta, o açaí serve de prato principal, de suco e de sobremesa.
Foi na virada do milênio que o açaí se arriscou para fora do Norte. Hoje, mais de um milhão de toneladas de açaí é produzido por ano, e 95% disso vem do Pará. No início dos anos 2000, a produção não chegava a 120 mil toneladas, e ficava quase inteira no Estado.
O consumo local continua gigante – 60% do açaí do mundo é consumido no Pará, mas 30% é consumido pelo restante do País, e 10% vai para exportação.
No Brasil, a popularização do açaí teve um protagonista inusitado – ou melhor, uma linhagem de protagonistas: a Família Gracie de lutadores de jiu-jitsu.
Os irmãos Carlos e Hélio Gracie transformaram o jiu-jitsu brasileiro numa marca internacional. Quase todos os seus descendentes são lutadores e o nome “Gracie” virou sinônimo de artes marciais. A popularidade crescente do MMA deu origem ao maior campeonato de luta do mundo, o UFC. E os holofotes transformaram a família, originária de Belém, numa espécie de “vitrine” dos costumes da região Norte para o resto do País. A Dieta Gracie virou marca registrada. E adivinha o que não podia faltar nela? Açaí.
A família Gracie inaugurou a relação entre açaí e esporte, que logo se tornou inseparável. Produtores aproveitaram a brecha para patrocinar campeonatos de MMA, populares no Norte. Nas praias do Rio de Janeiro, onde moravam os Gracie, o açaí virou moda.
Em 2000, uma dupla de surfistas americanos que visitava o Brasil ficou particularmente interessada na frutinha roxa. Eles começaram a levar a polpa congelada para os Estados Unidos e vendê-la nas praias de Los Angeles. Foi a primeira incursão internacional do açaí.